António Félix da Costa revela todos os detalhes do momento em que a Red Bull colocou um ponto final no seu sonho de chegar à Fórmula 1 ao promover Daniil Kvyat a um lugar na Toro Rosso em 2014.
O atual piloto da Andretti na Fórmula E começou por falar do automobilismo português e da falta de apoios aos jovens talentos.
“Penso que há duas vertentes que temos de analisar. Os campeonatos portugueses como os turismos e a Fórmula Ford estão num nível médio ou baixo. É o suficiente para os pilotos se divertirem mas não vai lançar ninguém para uma carreira”, disse Félix da Costa ao Grande Prêmio.
“É triste mas é a realidade do nosso país. Mas é bom ver alguns pilotos a divertirem-se em bons circuitos como o Estoril e Portimão, que têm de ser usados.”
“A outra vertente é a das novas esperanças e do que está a ser feito para as lançar. Na realidade eu acho que é muito pouco, o que me deixa triste. Eu, o Tiago Monteiro e o Filipe Albuquerque somos pessoas que podem evitar que as novas esperanças cometam os mesmos erros que nós e cheguem um pouco mais longe.”
“Penso que esse será o futuro, mas atualmente estou demasiado ocupado para o fazer. Acho que não vamos ter ninguém na Fórmula 1 nos próximos 7 anos, mas apesar de tudo há pilotos de 8 e 9 anos com muito potencial.”
O piloto português está prestes a viajar para Hong Kong para a primeira ronda da quarta temporada da Fórmula E e admite não estar satisfeito com os resultados obtidos no campeonato no último ano.
“A última temporada foi muito complicada e é muito duro para mim não ser competitivo. No primeiro ano ganhei uma corrida e no segundo fui várias vezes à Super Pole com um carro do ano anterior, mas o terceiro foi dececionante”, confessou.
“Não me arrependo de ter mudado de equipa porque há um plano a longo prazo e eu sei onde vai acabar, mas sabia que teria de sofrer até lá. Odeio lutar por 15º e 16º e não pontuar com regularidade, e prevejo que este ano seja tão ou mais difícil. Mas o futuro é promissor, e lamento não poder desvendar mais.”
Numa altura em que vários pilotos da Fórmula 1 estão a marcar presença em provas míticas de outras disciplinas do desporto motorizado, António Félix da Costa não esconde que gostaria de experimentar um monolugar da Indycar no futuro.
“Adorava, é um sonho para mim”, disse Félix da Costa relativamente a uma eventual participação nas 500 Milhas de Indianápolis. “Gostaria até de fazer o campeonato completo. Neste momento a Andretti não me parece a melhor opção, ainda não fiz o suficiente para impressionar o Michael e aceito isso.”
Depois de olhar para o futuro, António Félix da Costa regressou ao passado para revelar interessantes pormenores de como a Red Bull terminou com um sonho que estava muito perto de alcançar.
“Em 2012, no meu primeiro ano da Red Bull, o Ricciardo e o Vergne estavam na Toro Rosso e não havia lugar para mim”, começou por dizer.
“Acabei por fazer mais uma época na WSR 3.5 que correu bem, mas não tão bem como o esperado. Terminei o campeonato em 3º mas tivemos muitos problemas técnicos. Fiquei sem gasolina uma vez, furamos um pneu e houve uma vez em que nem cheguei a arrancar. Ainda assim venci quatro corridas.”
“A meio de 2013, quando venci no Hungaroring, recebi uma chamada do Franz Tost para ir a Faenza. Quando lá fui ele mostrou-me um fato com o meu nome, disse que ia fazer o banco e que estaria presente em algumas sextas-feiras [dos Grandes Prémios] porque iria correr no próximo ano e já não tinha muito tempo para me preparar.”
“Foi um choque para mim – de felicidade, obviamente. Fizemos um dia de filmagens que acabou por ser um teste para ver se estava tudo bem com o fato e o banco.”
“Regressei às WSR e acabei por ganhar em Paul Ricard, e de repente ficou tudo calado. Nessa altura vivia com o Kvyat em Inglaterra e havia um problema paralelo. Dizia-se que o Sirotkin ia entrar na Fórmula 1 e o Kvyat ficou muito nervoso, dizendo que tinha de ser o próximo russo na Fórmula 1.”
“Ele [Kvyat] até arranjou dinheiro para correr pela Marussia, e depois com o Grande Prémio da Rússia e uma conjugação de fatores eu fiquei sem lugar e passei mal.”
“Foi um dia muito complicado. Ligaram-me na segunda-feira após a última corrida da WSR a dizer que não tinham lugar para mim e que me iam colocar no DTM com a Audi. Uma hora depois ligaram-me a dizer que afinal era na BMW e eu chorava como um bebé.”
“Mas essa frustração passou rapidamente e tornei-me um piloto profissional de uma marca reconhecida em todo o mundo, com colegas de equipa fantástico como o Augusto [Farfus]. Não me posso queixar, faço o que gosto e consigo viver disso.”
“É pena não ter ficado com o lugar, mas já ultrapassei isso. Nesta última temporada recebi um convite para regressar ao simulador, ainda antes de o Kvyat sair, mas recusei por falta de disponibilidade.”
“Sempre achei que teria de ser o Buemi. Ele é piloto de testes na equipa, já correu na Fórmula 1, está no simulador todas as semanas, já testou o carro deste ano e acho incrível não lhe terem dado o lugar.”
“Mas é assim este mundo, é mais política que outra coisa. Já todos nos habituamos e o meu papel não é julgar decisões mas sim divertir-me quando estou num carro com quatro rodas e um motor.”