“Os meus cinco adversários mais subvalorizados”: Sem corridas, Daniel Ricciardo dedicou-se à escrita e redigiu um artigo muito interessante sobre cinco pilotos muito rápidos e que, na sua perspetiva, não tiveram o merecido reconhecimento ao longo das respetivas carreiras na Fórmula 1.
Desde que começou a sua carreira na Fórmula 1 em 2011, o piloto australiano partilhou a pista com 62 pilotos e só três deles estiveram presentes em todas as suas corridas – Hamilton, Vettel e Pérez.
Ao invés de recorrer às estatísticas para nomear os seus melhores adversários, Ricciardo optou por falar sobre alguns dos pilotos que não atingiram todo o seu potencial na Fórmula 1.
Marcus Ericsson
“O Marcus foi sempre muito rápido quando ambos estávamos a escalar nas categorias. Conseguir a pole em Macau na Fórmula 3 em 2009… não é para um piloto de domingo. Seis de nós na grelha daquele ano acabaram por chegar à Fórmula 1. Como jovem piloto, o Marcus era muito cotado, e senti que essa reputação não se prolongou quando esteve na Fórmula 1. A rapidez, no entanto, estava definitivamente lá. Na temporada de 2018, com a Alfa Romeo, deu para ver isso no início do ano contra o Charles, mas ao longo da temporada o Charles obviamente melhorou como rookie, e desde então provou que é um piloto de primeira linha. Mas senti que a rapidez do Marcus foi provavelmente um pouco subvalorizada.”
Jules Bianchi
“O Jules não era propriamente subvalorizado, mas nunca o vimos correr num carro de topo, por isso talvez as pessoas não tenham percebido o quão bom ele era. Basta pensar na sua prestação com aquele Marussia no Mónaco em 2014, os primeiros pontos da equipa… Mónaco é como Macau, não há como adulterar um resultado, foi absolutamente por mérito. Como jovem no karting, o Jules era ‘o’ piloto. Conhecemo-nos em Itália, num centro de treinos de karting, e toda a gente, mesmo quando tínhamos 17 anos, o tratava como se ele já fosse piloto de Fórmula 1. Eu conheci-o e tornámo-nos amigos, foi a partir daí que soube quem ele era e o que fez antes de eu chegar à Europa. É outra parte que torna a história dele tão triste, porque ele estaria numa equipa de topo e já teria vencido corridas. De certa forma, sinto que o Charles está a fazer agora aquilo que o Jules teria feito, é como se o Charles fosse a versão atrasada daquilo que o Jules teria feito com o sucesso que está a ter.”
Vitantonio Liuzzi
“O meu primeiro colega de equipa na Fórmula 1! Ele era, pelo que as pessoas sempre me disseram, um dos melhores pilotos de kart de todos os tempos. Mesmo nas revistas australianas, o Luizzi era sempre o piloto que aparecia nos anúncios. Ele era como Schumacher do karting naquela época. Ele chegou à Fórmula 1, portanto é óbvio que ainda se desenvolveu, mas acabou por nunca dar certo. Mas ele era rápido, e como um rookie a entrar ao lado dele na HRT, foi uma espécie de abre olhos. Ele estava no final da sua carreira na Fórmula 1 e eu posso admitir agora que talvez o tenha subestimado um pouco, por isso fui apanhado de surpresa com a sua rapidez. O ritmo de corrida provavelmente dececionou-o, mas a sua capacidade de extrair o limite do carro em qualificação captou a minha atenção. Lembro-me de em Budapeste, no meu primeiro ano, ter pensado que tinha feito uma volta de qualificação perfeita, mas mesmo assim ele bateu-me. Em termos de pura rapidez, ele definitivamente tinha-a.”
Roberto Merhi
“Dois pilotos da Marussia na minha lista! Não estavam à espera desta. O Merhi fez apenas um ano na Fórmula 1 em 2015, mas antes disso nós corremos na Fórmula Renault italiana em 2007, quando me mudei para a Europa. Nós éramos os dois rookies em destaque embora não tivéssemos o melhor equipamento, por isso ele entrou logo no meu radar. Fizemos a Eurocup no ano seguinte com o Bottas, mas eu ainda considerava o Merhi a minha maior ameaça. Ele era um pouco como o Max (Verstappen), já que podia simplesmente atirar o carro e tinha um controlo fantástico. Ele tinha a rapidez e a falta de medo para arriscar, e eu senti que ele seria alguém que me acompanharia na escalada pelas categorias. Penso que as coisas começaram a descarrilar para ele quando a gestão dos pneus se tornou um fator. O estilo dele combinava com a Fórmula Renault porque era a forma mais rápida de conduzir esses carros – sobreviragem constante e um carro solto. Ele era muito bom nesse estilo de condução, o que era impressionante, mas não se traduziu na Fórmula 1.”
Jenson Button
“Como pode um campeão do mundo ser subvalorizado? Eu explico-vos. O Jenson teve alguns grandes anos na Fórmula 1, mas foi 2011 que o colocou na minha lista, quando ele era colega de equipa do Lewis na McLaren e o superou de forma justa – o que, como sabemos, não é tarefa fácil. Ele superou-o em circuitos ‘reais’ como Suzuka, e o ritmo de corrida dele naquele ano… penso que ele estava no seu melhor em 2011. O Jenson também fazia as coisas de forma um pouco diferente, estava rodeado de uma boa equipa e era discreto. Ele continua a ser o melhor que já vi naquelas condições nem muito húmidas, nem muito secas – aquele clima traiçoeiro. E aquele vitória no Canadá, duas corridas antes da minha estreia, foi uma das melhores corridas de Fórmula 1 de todos os tempos.”