Fernando Alonso diz que prestações como o seu segundo lugar na qualificação de Montreal são importantes para que os novos fãs percebam que não está a mais na grelha – e para se distanciar de regressos menos bem conseguidos que marcaram a história do desporto.
Em entrevista ao The Race, o piloto espanhol abordou a evolução da sua carreira e a forma como o facto de ter corrido com carros menos competitivos afetou a sua imagem.
Alonso, que brilhou ao garantir o segundo lugar na grelha de partida para o Grande Prémio do Canadá, afirma que é importante que os fãs que não acompanharam os seus tempos gloriosos percebam que ainda é um piloto competitivo e motivado.
“Sei que a primeira linha da grelha não é o fim do mundo e já estive nessa posição algumas vezes”, disse Alonso. “Mas significou muito porque quando decides regressar, precisas de colocar algumas coisas de lado na tua vida, como família e amigos, para te dedicares totalmente ao trabalho que fazes, às viagens, ao aspeto físico, ao aspeto mental e à pressão que sentes sob os teus ombros.”
Ausente da Fórmula 1 em 2019 e 2020, Alonso admite que mostrar que a sua rapidez permanecia intacta era um dos seus principais objetivos.
“Sei que há alguns exemplos do passado de pilotos que estavam a regressar, como o Kimi ou o Michael, em que todos tínhamos a sensação de que eles já não eram o mesmo que antes”, referiu. “E eu não queria isso no meu regresso.”
“Penso que estou mais ou menos a conseguir isso. Sou o mesmo que antes. E isso foi importante para mim ”
“Mesmo se por dentro sentisse que continuava a ser o mesmo, tenho de prová-lo de vez em quando e fins de semana como o Canadá ajudam a criar essa sensação no paddock.”
Quando lhe perguntaram se as dúvidas em torno da sua capacidade representavam uma preocupação, Alonso declarou: “Estás ciente das coisas e estás ciente da opinião das pessoas.”
“E tens de fazer centenas de entrevistas em que te perguntam como te sentes aos 40 anos e se estás exatamente o mesmo que antes.”
“‘E qual é a ambição agora? Regressando aos 40 anos, isto é apenas por diversão, ou sentes-te mesmo rápido?’. Não é que fique zangado, mas é claro que me sinto rápido. Caso contrário, nunca teria regressado.”
Alonso, que cumprirá o seu 41° aniversário na sexta-feira do Grande Prémio da Hungria, acredita que a sua idade irá voltar a ser tema de conversa durante esse fim de semana.
“Agora que vou fazer 41 anos na Hungria, a idade vai ser um tópico”, previu. “Não me sinto diferente na Hungria em relação ao ano passado, quando tinha 39 anos. Mas eu sei disso.”
“E digamos que há uma nova geração de fãs que não existia em 2006, quando eu ganhei o campeonato, nem em 2012, quando estava na Ferrari a lutar pelo campeonato.”
“Há 50% de novos espetadores e eles nunca viram o Alonso a lutar por pódios e vitórias. Não é que estejam a perguntar ‘quem é este tipo?’, mas estão a perguntar ‘o que é que ele está a acrescentar ao desporto?’.”
“E penso que com fins de semana como o Canadá ou a segunda metade do ano passado eles conseguem sentir que eu ainda posso acrescentar alguma coisa ao desporto.”
Questionado sobre como gostaria de ser visto pelos novos fãs da modalidade, Alonso respondeu: “Como um lutador.”
“Alguém que não desiste facilmente e tenta sempre atuar ao máximo em qualquer treino livre, qualificação ou corrida, independentemente das condições ou da posição pela qual estás a lutar. Pode ser pela vitória ou pelo 12° lugar.”
“É importante para mim que as pessoas percebam que eu adoro competição e adoro o desporto.”
De acordo com o piloto da Alpine, a nova vaga de fãs da Fórmula 1 não é suficientemente conhecedora para avaliar a capacidade de um piloto com base em múltiplos fatores.
“Penso que a perceção de fora sobre mim tem mudado ao longo do tempo. Em 2007, talvez as pessoas tivessem uma perceção do que eu era como piloto ou como pessoa. Depois isso mudou quando estava na Ferrari, eu assentava muito bem na equipa latina.”
“Penso que os fãs que temos agora, há novos fãs que – e não quero faltar-lhes ao respeito – não sabem muito sobre Fórmula 1.”
“Eles são mais como os adeptos do futebol, só seguem os resultados. Quem quer que ganhe é o melhor. E quem é último não está ao nível da Fórmula 1.”
“Eles não percebem muito sobre o desempenho do carro e o pacote de que precisas. Portanto, é como se fosse uma montanha-russa em termos de perceção e do que as pessoas pensam de ti.”
“Quando fazes um bom fim de semana, pareces um deus. E depois quando tens um mau fim de semana, és demasiado velho ou demasiado novo.”
“Acho que os fãs vêem a corrida, ficam com uma perceção e desligam até ao próximo domingo. Já não há uma verdadeira cultura de Fórmula 1.”