Latifi condena o ódio “e até ameaças de morte” que recebeu após Abu Dhabi

Nicholas Latifi emitiu um comunicado para abordar o “ódio, abuso e até ameaças de morte” que recebeu após ter protagonizado o incidente que marcou a parte final do Grande Prémio de Abu Dhabi.

O piloto da Williams causou o período de Safety Car que se viria a revelar decisivo para o desfecho da corrida – e do campeonato – ao perder o controlo do FW43B na Curva 14 do traçado de Yas Marina.

“Olá a todos,

Intencionalmente, fiquei longe das redes sociais para deixar as coisas acalmarem depois dos eventos da última corrida.

Muito se falou sobre a situação que surgiu após o meu abandono em Abu Dhabi. Recebi milhares de mensagens nas minhas redes sociais – publicamente e via mensagens privadas. A maioria tem sido de apoio, mas também há muito ódio.

Tenho tentado descobrir a melhor maneira de lidar com isto. Será que devo ignorar e continuar? Ou será que que devo enfrentar a situação e abordar o problema que, infelizmente, é uma realidade para quem usa as redes sociais?

Este não é um comunicado com guião, mas sim eu a falar o que penso na esperança de que isso possa desencadear outra conversa sobre o bullying online e as consequências drásticas que pode ter nas pessoas. Usar as redes sociais como uma forma para atacar alguém com mensagens de ódio, abuso e ameaças de violência é chocante – e uma situação para a qual quero chamar a atenção.

Voltando ao fim de semana da corrida, assim que foi mostrada a bandeira de xadrez, eu sabia como, provavelmente, as coisas se desenrolariam nas redes sociais. O facto de ter achado melhor apagar o Instagram e o Twitter do meu telefone por alguns dias diz tudo o que precisamos saber sobre o quão cruel o mundo online pode ser.

O ódio, o abuso e as ameaças que se seguiram nas redes sociais não foram realmente uma surpresa para mim, pois é apenas a dura realidade do mundo em que vivemos agora. Não é uma novidade ser falado negativamente online. Acho que todos os desportistas mundiais sabem que estão sob um escrutínio extremo e isto acaba por ser uma consequência.

Mas, como vimos repetidamente em vários deportos, basta um incidente na hora errada para as coisas ganharem proporções exageradas e trazer à tona o que há de pior nas pessoas que são chamadas de ‘fãs’ do desporto. O que me chocou foi o tom extremo de ódio, abuso e até mesmo as ameaças de morte que recebi.

Refletindo sobre o que aconteceu durante a corrida, havia realmente apenas um grupo de pessoas a quem eu precisava me desculpar pelo DNF: a minha equipa. Eu fiz isso imediatamente. Tudo o que se seguiu estava fora do meu controlo.

Algumas pessoas disseram que eu estava a competir por uma posição que não importava com apenas algumas voltas restantes, mas quer esteja a lutar por vitórias, pódios, pontos ou mesmo o último lugar, darei sempre o meu melhor até à bandeira de xadrez. Nesse aspeto, sou igual a todos os outros pilotos na grelha. Para as pessoas que não entendem ou não concordam com isso, tudo bem por mim. Podem ter a vossa opinião. Mas usar essas opiniões para alimentar o ódio, o abuso e as ameaças de violência, não só contra mim, mas também contra os mais próximos de mim, mostra-me que essas pessoas não são verdadeiros fãs da modalidade.

Felizmente, estou confortável o suficiente na minha própria pele, e estou neste mundo há tempo suficiente para fazer um bom trabalho em deixar qualquer negatividade passar-me ao lado. Mas eu sei que não estou sozinho em pensar que um comentário negativo parecem sempre destacar-se mais – e às vezes pode ser o suficiente para abafar 100 comentários positivos.

As pessoas terão as suas opiniões, e tudo bem. Ter as costas largas é uma grande parte de ser um atleta, especialmente quando estamos constantemente em posição de ser escrutinados. Mas muitos dos comentários que recebi na semana passada ultrapassaram os limites e chegaram a algo muito mais extremo. Preocupa-me como outra pessoa poderia reagir se esse mesmo nível de abuso fosse dirigido a ela. Ninguém deve permitir que as opiniões de uma minoria vocal ditem quem eles são.

Os eventos da semana passada fizeram-me ver como é importante trabalharmos juntos para impedir que esse tipo de coisa aconteça e apoiar aqueles que são afetados. Sei que dificilmente convencerei aqueles que agiram dessa maneira comigo a mudar seus hábitos – e eles podem até tentar usar esta mensagem contra mim – mas o correto é denunciar este tipo de comportamento e não ficar em silêncio.

Para todos os fãs e pessoas que me apoiaram durante toda esta situação, quero dizer um grande obrigado. Eu vi e li muitas das mensagens e estou muito grato. É bom saber que tenho tantas pessoas a apoiar-me.

O desporto é competitivo por natureza – mas deve aproximar as pessoas, não separá-las. Se partilhar os meus pensamentos e destacar a necessidade de ação ajudar apenas uma pessoa, então valeu a pena.

Enquanto estamos ansiosos para o Ano Novo, eu realmente espero que minhas experiências após o Grande Prémio de Abu Dhabi ajudem a reforçar essa mensagem, e minha resolução de Ano Novo é procurar maneiras de apoiar esse processo. Basta sermos todos gentis!

Desejo a todos umas boas festas, mantenham-se seguros e vemo-nos nas pistas em 2022.

Nicky”