O primeiro teste de Mick Schumacher com um Fórmula 1 atual acontecerá já na próxima semana, quando o campeão em título da Fórmula 3 Europeia experimentar o Ferrari SF90 no Bahrain. Há 23 anos, uma ocasião igualmente especial verificava-se em Portugal: Michael Schumacher estreava-se com a Ferrari e dava início a uma nova era na Fórmula 1.
O piloto de 20 anos que diz que ser comparado ao seu pai está longe de ser um problema, estrear-se-á este fim de semana na Fórmula 2 e marcará posteriormente presença nos dois dias de testes do Bahrain, testando primeiro o Ferrari SF90 e depois o Alfa Romeo C38.
Embora as circunstâncias sejam obviamente distintas, o primeiro teste de Mick com a Ferrari representará certamente um momento único na sua carreira, sendo por isso praticamente impossível não lembrar a bem sucedida primeira experiência do seu pai com a Scuderia em solo português.
Na sequência de dois títulos consecutivos ao serviço da Benetton, em 1994 e 1995, Schumacher juntou-se à Ferrari com o objetivo de colocar a equipa de novo no topo da Fórmula 1.
Jody Schekter, em 1979, tinha sido o último piloto a levar a equipa de Maranello ao título, e as vitórias em corridas também não eram propriamente frequentes – nenhuma nas temporadas de 1991, 1992 ou 1993 e apenas uma em 1994 e 1995.
Um período de quase 20 anos sem chegar ao título era demasiado extenso para uma equipa como a Ferrari, que procurava regressar à glória e apostava num alinhamento de pilotos completamente renovado em 1996.
Depois de algumas voltas de adaptação ao carro na pista da equipa em Fiorano, Schumacher e a Ferrari estiveram no Circuito do Estoril logo após o final da temporada de 1995 para a preparação daquela que seria uma nova era em todos os aspetos na Fórmula 1.
Numa sessão de testes marcada pelas condições adversas e pelos problemas registados nos monolugares da equipa, Schumacher alternou entre o 412T2 V12 utilizado por Jean Alesi e Gerhard Berger em 1995 e um protótipo já equipado com o V10 que viria a ser utilizado pela marca do Cavalinho Rampante no ano seguinte.
“O mais divertido acerca deste primeiro dia de testes foi o motor V12 à chuva”, dizia um satisfeito Schumacher após a sua primeira experiência com o Ferrari.
O profissionalismo, a competência e a forma de trabalhar de Schumacher impressionaram a Ferrari, mas o destaque dessa sessão de testes foi o ritmo que o permitiu ser quase dois segundos por volta mais rápido do que Alesi e Berger.
O alemão saiu do carro a dizer que gostaria de ter utilizado o motor V12 da Ferrari ao longo das sessões de qualificação que marcaram a temporada e foi ainda mais longe ao garantir que a caminhada rumo ao título teria sido mais fácil com o 412T2.
As sensações positivas logradas após as 42 voltas que totalizou ao longo dos quatro dias que passou em Portugal fizeram com que Schumacher estabelecesse ambições e objetivos claros: “Utilizar um novo motor significa que por vezes não chegarei ao fim. Posso pensar em ganhar algumas corridas e depois apostar no título em 1997.”
Essas palavras proferidas por Schumacher revelaram-se uma espécie de profecia, à luz das três vitórias ao longo da temporada de 1996 e da intensa batalha pelo título de 1997 travada com Jacques Villeneuve.
É como se Schumacher já soubesse tudo naquele primeiro dia no Estoril. 21 de Novembro de 1995 ficará sempre associado ao dia em que a lendária parceria Schumacher-Ferrari arrancou. E o resto é, literalmente, história.