A FIA admitiu que foi “imprudente” enviar um veículo de recuperação para a pista em condições de pouca visibilidade em Suzuka e e detalhou as medidas que implementará a partir deste fim de semana para evitar uma repetição da situação.
O órgão governativo do desporto levou a cabo uma investigação aos acontecimentos do Grande Prémio do Japão, prova onde as condições adversas provocaram diversos acidentes logo após o arranque.
O principal ponto da análise efetuada pela equipa liderada por Mohammed Ben Sulayem esteve relacionado com a entrada de um veículo de recuperação em pista na sequência do acidente de Carlos Sainz.
Pierre Gasly, que tinha parado nas boxes no final da primeira volta para trocar a asa dianteira do seu AlphaTauri, não tinha sido informado da presença de uma grua em pista e esteve perto de se envolver num grave acidente.
Confira aqui o relatório completo divulgado esta sexta-feira pela Federação Internacional do Automóvel.
Início de corrida
“Embora estivesse a chover, as condições eram suficientemente adequadas para que a corrida se iniciasse a horas e com partida parada”, lê-se no relatório. “Todas as equipas começaram com pneus intermédios após as voltas de reconhecimento, mas uma chuva mais intensa à hora da partida significou que o controlo do carro com pneus intermédios após o arranque foi mais desafiante.”
Ativação de veículos de recuperação e comissários
“A revisão concluiu que todos os procedimentos da FIA foram seguidos. Após o acidente que envolveu o Ferrari de Carlos Sainz na Curva 12, a pista foi neutralizada com o Safety Car antes de os comissários e os veículos de recuperação serem colocados em pista.”
“A revisão observou que em tais condições, um veículo de recuperação não deve ser ativado a menos que todos os carros estejam alinhados atrás do Safety Car. Para além disso, os comissários e o equipamento de recuperação só seriam destacados com os carros em pista quando as condições meteorológicas e a localização dos carros a ser recuperados permitissem uma intervenção rápida e segura.”
“Tendo em conta as condições da pista e a visibilidade geral para os pilotos, os comissários e o pessoal de recuperação na altura, e como os esforços se focaram na recuperação segura, o AlphaTauri de Pierre Gasly na via das boxes não foi imediatamente detetado.”
“A direção corrida não monitoriza necessariamente todos os carros que podem parar durante os períodos de Safety Car, uma vez que está mais preocupada com qualquer área que contenha um acidente e com a neutralização do pelotão atrás do Safety Car.”
“Depois da sua paragem, Gasly regressou à pista e pilotou até ao seu delta de Safety Car num esforço para se juntar ao pelotão. Quando chegou ao incidente na Curva 12 pela segunda vez, os comissários estavam a trabalhar com uma grua na pista.”
“Embora seja prática comum ativar os veículos de recuperação assim que uma corrida esteja neutralizada, o painel de revisão discutiu se a entrada de um veículo de recuperação em Suzuka para retirar o Ferrari de Carlos Sainz foi prematura tendo em conta as condições.”
“O painel de revisão reconheceu que ter veículos de recuperação em pista em Suzuka durante aquelas condições meteorológicas é um assunto sensível devido aos trágicos acidentes do passado. O painel determinou que, em retrospetiva, como as condições meteorológicas estavam a alterar-se, teria sido mais prudente adiar o envio dos veículos de recuperação para a pista.”
“Foi reconhecido que todos os esforços devem ser feitos para realizar uma recuperação segura e eficiente dos carros. Um período de recuperação mais longo, em condições como as que se verificavam em Suzuka, pode resultar na suspensão da corrida.”
“Foi também reconhecido que, embora o Safety Car seja utilizado para neutralizar uma corrida, a FIA tem controlo sobre os carros diretamente atrás do Safety Car, mas não tem controlo suficiente sobre os carros que estão noutros pontos da pista.”
Obrigações dos pilotos
“Foi ainda reconhecido que, em concordância com os regulamentos aplicáveis, os pilotos devem limitar a sua velocidade de acordo com a bandeira amarela, o Safety Car e a bandeira vermelha. Os pilotos são também obrigados a aplicar sempre o senso comum.”
“No caso de Gasly, a telemetria mostrou que num esforço para fechar o tempo delta para o Safety Car, rodou a velocidades que excederam os 200 km/h antes do local de acidente de Sainz – e depois de passar o Ferrari de Sainz, sob bandeira vermelha. Deve ser notado que depois do evento, Gasly expressou o seu arrependimento durante uma audiência com os comissários que resultou numa penalização.”
Pneus
“O desempenho dos atuais pneus de piso molhado em condições extremas foi discutido. Uma análise do desempenho do pneu está em curso entre o departamento técnico da FIA e o fornecedor oficial de pneus.”
Publicidade nas barreiras da pista
“O problema da fixação dos painéis publicitários, da sua construção, localização e materiais está constantemente em revisão pela Comissão do Circuito.”
Drenagem
“Discussões estão em curso entre a FIA e os organizadores do evento em relação à melhoria da drenagem do circuito em Suzuka.”
Medidas a implementar a partir do Grande Prémio dos Estados Unidos após as conclusões da análise aos acontecimentos de Suzuka:
- Fornecimento às equipas de uma mensagem que notificará a presença de um veículo de recuperação em pista, com a obrigação de as equipas informarem os seus pilotos;
- Desenvolvimento de uma janela de monitorização VSC/SC ao vivo para mostrar à direção de corrida o estado de todos os veículos em pista, atrás no Safety Car e nas boxes;
- Atualização dos procedimentos da direção de corrida para melhor definir a atribuição de tarefas durante os períodos de SC ou VSC;
- O diretor de corrida realizará uma revisão dos incidentes de Suzuka durante o briefing de pilotos do Grande Prémio dos Estados Unidos, onde explicará as soluções que a FIA planeia introduzir para evitar uma repetição da situação no futuro e lembrar os pilotos das regras relativas aos Safety Cars e às bandeiras vermelhas;
- VSC dinâmico: implementação de uma nova função que alteraria a velocidade delta necessária que o piloto teria de seguir antes e nos setores onde há um incidente, o que ajudaria o piloto a saber onde o incidente foi declarado;
- Uma revisão, em conjunto com as equipas, aos precedentes de penalização para os pilotos que não respeitem as regras relativas às bandeiras amarelas, bandeiras amarelas duplas, VSC e SC;
- Avaliação da atual aplicação dos painéis publicitários, da sua construção, localização e materiais utilizados para evitar a possibilidade de serem arrancados e atirados para a pista.